A tese investiga como a subjetividade das vítimas tem sido moldada por diferentes discursos,
tanto no campo médico quanto no criminal
Minha tese de doutorado, que precedeu a presente publicação, aborda a interseção entre saberes psi, psicanálise e criminologia, com foco na subjetividade das vítimas e na experiência do trauma, à luz do conhecimento psicanalítico e da evolução histórica desses conceitos.
A abordagem teórica é fortemente influenciada pelas obras de Michel Foucault, especialmente no que se refere à governamentalidade, ao poder disciplinar e às práticas de subjetivação.
A pesquisa destaca a crescente influência dos saberes psi na compreensão das dinâmicas do trauma e da vitimização, especialmente a partir da interseção entre psicanálise e psiquiatria, desde o final do século XIX.
Um ponto central é a evolução do conceito de trauma, inicialmente vinculado a contextos de acidentes e guerras, e sua progressiva inserção na esfera pública, particularmente a partir dos movimentos feministas nas décadas de 1970 e 1980.
Nesse contexto, a tese também explora a relação entre trauma, subjetividade e o sistema punitivo, destacando como o sofrimento das vítimas tem sido instrumentalizado para legitimar políticas punitivistas.
Observa-se que o discurso sobre o trauma, aliado à crescente visibilidade midiática e ao poder dos saberes psi, tem reforçado uma cultura de medicalização e controle, que, paradoxalmente, não promove a verdadeira elaboração psíquica do trauma, mas sim a revitimização das pessoas afetadas.